Várias gerações de moradores encontraram-se no anfiteatro do Bairro Fonsecas e Calçada, na Freguesia de Alvalade, para conversar com os eleitos da CDU, na Junta e na Câmara Municipal, sobre as conquistas dos últimos quatro anos, mas também os desafios e necessidades deste Bairro e da freguesia de Alvalade.
Na iniciativa “O Bairro que temos, o Bairro que queremos”, Ricardo Varela e Pedro Bastos, responsáveis da CDU no executivo da Junta de Freguesia de Alvalade, prestaram contas aos moradores, realçando a requalificação do antigo ringue, hoje Pavilhão Municipal de Alvalade, e a obra na Escola básica Dom Luís da Cunha, exemplos de intervenção que ocorreram por iniciativa e contributo dos eleitos da CDU. “Temos tido como prioridade quebrar as assimetrias e desigualdades na freguesia de Alvalade. E temos dado o contributo para reduzi-las”, explicou Ricardo Varela, responsável pelo pelouro da Educação e Juventude. “Quando foi necessária a requalificação da escola, os nossos vereadores estiveram cá, fizeram requerimentos na Junta e na Câmara. A escola, hoje, é uma realidade, foi requalificada”, diz. Pedro Bastos, responsável pelo pelouro da Actividade física e Desporto, lembrou as actividades agora disponíveis no Pavilhão e disse que a CDU “vê a Freguesia de Alvalade como um todo: não é só o centro, também é nas áreas quase limítrofes que defendemos a nossa actividade”. Os fregueses e moradores de Alvalade, e do bairro de Fonsecas e Calçada, sabem que “os eleitos da CDU, membros do PEV, do PCP e independentes, não trabalhamos para o acto eleitoral, trabalhamos para a população e para os moradores daqui do Bairro”, diz.
O Bairro Fonsecas e Calçada foi desenhado pelo arquitecto Raúl Hestnes Ferreira no âmbito dos SAAL (Serviço de Apoio Ambulatório Local), logo após a Revolução dos Cravos, para as Cooperativas 25 de Abril e Unidade do Povo. Como lembra Luís Gouveia, 80 anos, morador na Freguesia, só em 2016 a CML entregou as licenças de utilização das 355 habitações do Bairro. “É preciso percorrer distâncias históricas e é preciso muita determinação e luta”, diz. O morador traz uma notícia de Janeiro de 1977, recordando memórias da geração que construiu e habitou o bairro: “Em 1976, o grupo de jovens trabalhadores do bairro de lata da Quinta da Fonsecas e Calçada levou à cena uma peça que contava as experiências negras gravadas destes jovens, as desventuras dos trabalhadores desde a sua vinda da província para a cidade à procura do El Dorado.” Luís Gouveia lembra que, antes do 25 de Abril, o Fonsecas e Calçada era um bairro de barracas: “Peço a quem hoje vive aqui, e está convencido que tem o mundo conquistado, não esqueça o exemplo dos seus maiores. E se lembre sempre que o Fonsecas e Calçada e as suas necessidades se renovam a cada momento.”
Filho do bairro, Bruno Oliveira Martins, 16 anos, celebra os avanços de requalificação dos espaços exteriores, nos prédios, bem como os equipamentos. Para os jovens, a questão da mobilidade é uma das mais importantes: “Temos de nos deslocar para mais longe para podermos ir a escolas, e aqueles que trabalham têm também de se deslocar. Temos esperança que largos passos também sejam dados nesse sentido.” Bruno Martins lembra que os moradores do Bairro não se podem “deixar acomodar porque as suas necessidades vão sendo actualizadas, ano após ano. Não podemos deixar que elas se acumulem, temos de fazer um trabalho mútuo entre a junta de freguesia, moradores, cooperativas e todas as outras instituições que se encontram em acção no Bairro, para que possamos levar o Bairro a um rumo melhor”.
É também a mobilidade que preocupa Ana Maria Silva, 68 anos. Não é moradora do Fonsecas e Calçada, mas vive na Freguesia de Alvalade, e está preocupada com a falta de transportes públicos entre bairros, as ligações à cidade bem como as alterações climáticas. Sugere, pela sua experiência, “pequenos autocarros que tenham uma mobilidade maior e façam circuitos fixos, passando de 30 em 30 min, onde as pessoas se movam dentro e entre bairros”, explica. Diz que “é uma aflição para os moradores quando passam aqueles autocarros enormes que às vezes nem cabem nos bairros”.
Muitas vezes, o bairro acaba por se tornar uma ilha, diz Sérgio Morais, 49 anos, morador. “Além do barulho, temos a Segunda Circular mesmo aqui: até pode haver uma passagem aérea, mas acaba por ser intransponível; depois temos aquela que dá acesso ao Estádio Universitário, que é outra barreira; depois a sul, a Avenida Lusíada. Isto são impedimentos para a vida das pessoas”, explica. O morador conta que se quiser ir do centro da Freguesia na Praça de Alvalade até ao Cais do Sodré a pé, pode fazê-lo de forma agradável. “Aqui não posso. Até mesmo se viver em Telheiras, vou ter de passar por cima da Segunda Circular, numa passagem desagradável, barulhenta, poluída, nem sempre segura”, diz.
Vários participantes lembraram uma série de carreiras de autocarros que dantes serviam o Bairro. “Já tivemos melhores transportes públicos do que aqueles que temos neste momento. Lisboa não pode depender tanto, como tem dependido, do transporte individual. É uma quantidade brutal de carros que todos os dias entra e sai da cidade; ocupando o espaço, criando problemas de estacionamento, poluindo o ambiente e pesando nos orçamentos das famílias”, diz o candidato da CDU à Câmara de Lisboa, João Ferreira. É, por isso, importante haver carreiras que “possam fazer a ligação entre pontos-chave dos bairros e entre os bairros e outras zonas da cidade, onde as pessoas precisem de recorrer para ir a um serviço público, a uma escola, a um banco. São necessidades de mobilidade que as estão por responder”. Isto porque não se pode pensar a mobilidade apenas para as pessoas irem de casa para o trabalho, do trabalho para casa: “As pessoas que aqui vivem, para além de se levantarem todos os dias e irem trabalhar, podem ter e têm a necessidade de viver de outra forma a cidade: poder frequentar actividades desportivas, culturais, actividades de recreio e lazer com as suas famílias noutros pontos da cidade.”
O bairro que queremos implica também discutir “o que gostaríamos que fosse diferente, que bairro gostaríamos de ter e o que temos de fazer para o conseguirmos”, diz João Ferreira. “A gente também pode fazer isto para a cidade: tem a ver com a cidade que temos e a que gostávamos de ter. Este bairro é parte da cidade. Mesmo que possa não parecer – porque a Câmara ou a Junta se esquecem, algumas vezes, que ele é parte da Freguesia e da cidade.”
João Ferreira lembrou ainda que Lisboa está há 20 anos dependente de políticas do PSD, CDS e, actualmente, do PS, com apoio do BE. “Em duas décadas foram só estes partidos que Lisboa conheceu no governo da cidade”, disse. A habitação é um dos sectores mais afectados. “Vemos o que acontece aqui bem próximo, os valores que atingem os preços da habitação”, diz, perante um Bairro que foi uma cooperativa de habitação e hoje está rodeado de blocos de apartamentos de luxo. Em Lisboa, “tudo o que é oferta municipal, bairros municipais e habitação pública e social não cresceu, está estagnada há 20 anos. Praticamente não houve crescimento nenhum de oferta de habitação para famílias de menores rendimentos ou até de rendimentos médios”, diz João Ferreira. Hoje na cidade, “só as famílias mais abastadas e muito abastadas que conseguem chegar aos preços que a habitação atinge”.
No encontro com os moradores, falou-se também da qualidade do espaço público, da situação dos bairros municipais, e da atenção que a Câmara Municipal tem dado, ou não, a esses bairros; falou-se de desporto e de colectividades, mas também na integração de Bairros como o Fonsecas e Calçada na rede da cidade. “Olhando para o que tivemos nos últimos 20 anos, somos forçados a concluir que a cidade que temos está ainda longe da cidade que gostaríamos de ter”, disse João Ferreira.