A situação no comércio em Lisboa é “grave” e este foi um ano “com grandes perdas”, “penoso e gravoso para a cidade”, explicou Maria de Lourdes Fonseca, presidente da União de Associações do Comércio e Serviços da Região de Lisboa (UACS), num encontro com João Ferreira, candidato da CDU à Câmara Municipal de Lisboa.
As perdas são inúmeras e não se esgotam nos efeitos da pandemia. Lisboa pode ser “um espelho do país”, mas a sua dependência económica do turismo deixam-na particularmente exposta. “A queda do turismo aliada ao teletrabalho obrigatório foram um desgaste muito grande para o comércio”, diz Maria de Lourdes Fonseca. Mas nem toda a cidade sentiu da mesma forma o impacto: “As zonas de comércio em Alvalade e Campo de Ourique estão a funcionar bem. São áreas que têm habitantes, com características de regime misto, de comércio e serviços de proximidade. Mesmo que as pessoas estejam em teletrabalho, até ali, moda e calçado que são os sectores que mais foram afectados na pandemia estão a conseguir aguentar-se”, disse. Já na zona histórica a situação é completamente diferente: “Não há turistas e, na Baixa, havia muitos estabelecimentos dependentes do turismo. Sem pessoas, sem residentes, não há consumo. Somos cada vez menos na Baixa. O turismo domina e seca tudo à sua volta.”
Num dia dedicado a ouvir experiências e conhecer as dificuldades do sector do comércio em Lisboa, João Ferreira partilhou da ideia do director da UACS, Miguel Macedo e Cunha, de que falta, no actual executivo da autarquia, “um plano estratégico para o comércio, uma visão e uma estratégia para a cidade. Há medidas pontuais de quatro em quatro anos, mas não há coisas estruturantes. As medidas são conjunturais e imediatas.” De facto, explicou João Ferreira, na CDU “somos muito críticos da visão do governo da cidade, que abdicou do planeamento: em Lisboa o mercado ditou e quando o mercado dita está à vista a perversidade de uma visão deste tipo. Não podemos abdicar do planeamento dos usos e funções da cidade.”
Não é por acaso, diz João Ferreira, que bairros como Alvalade e Campo de Ourique não sentiram tanto os efeitos do confinamento. “Não é por vontade espontânea do mercado, é porque houve e há planeamento”, diz. Os efeitos da concentração do turismo estão à vista: “É preciso repensar a base económica da cidade. O comércio e as pequenas e médias empresas são a base económica da cidade, a salvaguarda do que temos”.
As queixas dos comerciantes centram-se nos dois eixos fundamentais para o tecido económico de Lisboa: habitação e transportes a uma escala metropolitana. João Ferreira frisou como uma série de medidas defendidas pela CDU se vieram a revelar essenciais para o sector: “Acreditámos que o comércio e o tecido económico eram importantes para regressar à normalidade. Resistimos muito para criar condições para retomar a normalidade dentro das medidas de segurança durante o confinamento. Não houve focos de Covid-19 no comércio, mostrámos que com garantia de protecção é possível continuar a actividade económica”, explicou.