Marvila. Quando a luta e a poesia derrubam os muros que isolam os bairros de uma vida melhor

O dia de acção da CDU em Marvila passou por uma tribuna que juntou o testemunhos dos moradores dos bairros de Marvila com a intervenção poética de vários actores, escritores, editores, poetas a ler textos sobre a cidade, a luta e a habitação.

Num dos testemunhos, um jovem morador de Marvila falou da diferença do chão nos bairros dos pobres, que a Câmara Municipal de Lisboa (CML) “não liga”, e “o centro da cidade”, nas zonas do turismo e das pessoas que contam para quem tem o poder. “Aí o chão é de calçada portuguesa e limpa, aqui é muitas vezes de tijolo vermelho, onde toda a sujidade se entranha”, como se fossem duas cidades diferentes, separadas por um muro.

Em Marvila estiveram João Ferreira, candidato da CDU à presidência da CML; Leonor Moniz Pereira, cabeça de lista da CDU à Assembleia Municipal de Lisboa, Nuno Almeida, candidato da CDU à presidência da Junta, e dezenas de outros candidatos e activistas.

No Bairro Marquês de Abrantes eram inúmeras as queixas sobre o abandono a que a CML tem deixado os bairros municipais, a falta de equipamentos públicos e o isolamento a que estes territórios são votados pela quase ausência de transportes públicos em grande parte da freguesia, fora das horas de trabalho.

“É como se estivéssemos isolados do resto da cidade por um verdadeiro muro”, comentou um habitante de Marvila de há muitas décadas, durante os contactos com a população.

Na sessão de poesia, participaram Corina Lozovan, Henrique Manuel Bento Fialho, Sofia Lisboa, João Paulo Cotrim, Joana Manuel, Vasco Macedo e José Luís C, convocando poemas de Herberto Helder, Manuel António Pina, Adília Lopes, Miguel Martins, Vinicius de Moraes, Miguel Cardoso, Vasco Gato e Jorge Sousa Braga.

O candidato da CDU à presidência da Junta de Freguesia de Marvila, Nuno Almeida, assinalou que “o facto de contactarmos regularmente com a população, não só em períodos eleitorais, permite-nos dizer que vivemos num lugar que podia ser uma das mais belas e dignas freguesias de Lisboa. Não tenhamos dúvidas que para tal aconteça tem que ser resolvido o problema da habitação e não se pode promover a exclusão e a guetização das pessoas”.

João Ferreira explicou esta, para alguns, estranha mistura que move a CDU, entre a luta contra o que está mal e o sonho numa cidade e vidas mais justas.

“Alguns estarão a perguntar a esta hora, ‘eles vieram falar dos problemas que temos, habitação sobretudo, e vieram dizer poesia ao mesmo tempo?’ Não é comum fazer uma tribuna pública, falar dos problemas da rua e ao mesmo tempo virem para aqui uns ler poesia. Isto é mais ou menos aquilo que se passa numa poema aqui lido, de Vinicius de Moraes, em que um operário, quando percebeu a força que tinha se viu abrir toda uma outra dimensão que ele não conhecia: a dimensão da poesia. É mais ou menos a escolha que temos que fazer no próximo domingo. Se nós ganharmos a consciência da importância desta escolha e da força que temos para determinar o nosso destino, há também toda uma outra dimensão que se vai abrir, como tudo aquilo que a poesia significa como transformação da vida e da realidade. É para isso que a CDU aqui está: para transformar a vida, neste caso a vida das pessoas que vivem nos bairros municipais”.

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